segunda-feira, 3 de maio de 2010

da traição e outras merdas


Fui acordada no meio da noite pelo telefone com sua campainha estridente.
Havia dormido miseravelmente há duas horas quando alguém decidiu que ligar para meu número invés de dormir seria boa diversão.
Tem gente que se distrai assim, proclamando seu ódio e a determinação em distribuir rancor. Infelizmente sou obrigada a partilhar dessa idiotice.
Paciência.
Para não enlouquecer fritando os lençóis levantei e pus-me a pensar sobre traição, sensação que ultimamente desperta tanto quanto o aparelho da campainha exaltada aliviando a solidão de quem liga.
Levantado o véu de mártir apunhalada, comecei indagar: existe uma pior traição de quem se ama?
Há que reconhecer que o amor, seja fraternal, de filhos ou amantes, é necessariamente sentimento de mão única.
A correspondência é desejável, mas jamais pode ser constatada, mesmo na mais singela modalidade: o de mãe e filhos.
Cada uma das variedades desse sentimento possui uma possibilidade maior ou menor de absorver as dores, como ingratidão, desatenção e até da traição.
Pela janela reparei que a noite já dissipou em dia, trazendo conforto para a solidão de quem buscava paz na insone companhia do meu telefone.
Calou o toque.
Uma noite branca e vários dias arrastando a dor de mártir não deram a resposta dessa questão, que vem me trazendo sofrimento:
Por que trair a quem se ama, ou quem ama verdadeiramente trairia?
As mentiras revelam falta do amor recíproco, ou encontram alguma explicação que as torne palatáveis?
Talvez a busca da resposta esteja em mim, não no outro.
A mesma dor que embala a solidão escura de irmã desvairada ligando noite à dentro deve ser a que me cobra explicar o inexplicável.
Traição só existe para o mártir traído. No outro já passou impune o momento.
Esquecido desligou culpas e campainhas, simplesmente fez aquilo que desejava.
Se dor restou foi a quem se contentou com as migalhas das promessas do ser amado.
Viver no reflexo dos outros não é vida. Pura ilusão.
Isso difere nós, gente-planeta, das estrelas.
Na sobra responde se existe traição.

2 comentários:

Priscilla disse...

Traição é e sempre será um assunto ao qual será delicado discutir. Saber o que é realmente uma traição e onde se origina, os porquês e motivos bestas ou não.
Acordar numa madrugada com telefonema e dúvidas assim não deve ter sido fácil.
Mas penso talvez o que deva ser a origem da sua epifania: alguém que liga na madrugada pra casa de alguém só pode ser um côrno!

bju

zeamerico.adv disse...

A traição só existe entre os que se amam; não havendo amor não há traição. Assim como não há ingratidão, quando não há obrigação de agradecer.
O móvel da traição é a cumcupiscência ou a tesão, que não se confundem com o amor. O amor é gratuito, é porque é, não há um por quê.
Abraços, Cristina.

Zé Américo