segunda-feira, 3 de maio de 2010

tempo roubado


Novas tecnologias atropelam. Surgem tão rapidamente que nem bem a gente acostuma com uma outra já está no lugar. Eu sinto assim.
Minha mãe não mais se importa em ir além do liga/desliga; tudo estará mesmo superado em breve. Sábia.
Me apego aos gadgets eletrônicos e vai aumentando minha dependência deles.
Celular, laptop, agenda, mp3, se possível tudo junto e conectado.
Para que?
Cada um deve ter seu álibi.
O meu é poupar tempo.
Utilizando essa despudorada desculpa sem parcimônia constatei que já não vou ao banco, farmácia e nem mercado. Não saio de loja em loja na busca de presentes de casamento ou pechinchas em eletrodomésticos. Nunca mais fui à rua para comprar passagens e pegar resultados de exames.
Das antigas visitas à loja para levar filmes e da espera em estado de suspensão pela surpresa nas revelações das fotos de viagem nada sobrou.
Não entrego em mãos nada que possa ser digitalizado e enviado. Tomo informações das mais diversas atividades sem deslocamento.
Confesso, já fui ousada: até esperava e entrava num café antes de uma trivial sessão de cinema. Nesses momentos largados algum encontro surgia com uma conversa despreocupada ou um acaso necessário.
Poderia enumerar à exaustão a quantidade de deslocamentos e saídas a que me desobriguei, das conversas pouco objetivas poupadas pelos torpedos e email, dos contatos mantidos em asséptico distanciamento, mas não consigo contabilizar dessa equação qual o meu ganho.
Sim, porque desocupar as horas não significa que eu as tenha aplicado em nada mais importante. Saio menos, mas ainda assim não leio mais. Escrevo cada vez menos, não produzo meus ambiciosos projetos.
Adiando descaradamente pequenos compromissos, e os grandes também, vou roubando o prazer dos encontros fortuitos pela rua, do destino surgindo nas conversas derivadas e das chances que só o acaso produz.
Qual a caricata figura do avarento, sinto que estou acumulando tempo sem qualquer finalidade. Somado para vê-lo passar.
Estarei ganhando preciosas horas ou as perdendo da vidavivida ?

Um comentário:

Fábio disse...

Tenho uma leve impressão que me sinto assim sempre... As coisas virtuais me deixam com nostalgia, dá época que mandar carta era revolucionário, a época de ir no cinema era o máximo... coisas e coisas virtuais, me deixam cada vez mais louco.