quinta-feira, 30 de julho de 2009

nomes e pessoas.


Sempre me orgulhei de ter um prodígio de memória. Proclamava envaidecida que nunca tive caderneta de telefones: sabia de cor todos que necessitava.
O tempo passou, meu HD foi ficando superado -sinceramente acho que pelo excesso de informação, não pela idade- e outros gadgets surgiram: o telefone celular com agenda, por exemplo. Da agenda mental ao esquecimento total foi um pulo.
Hoje as pessoas trocam o número do telefone com a velocidade da luz, e todos ficam registrados imediatamente nessa maravilhosa invenção. Cheguei ao cúmulo de não saber o número do celular do meu próprio filho! Bastava apertar o botão do nome, sem nunca precisar ler com mais atenção, e a ligação estava feita.
Enfim, HD lotado, memória desgastada e uma série de coisas que incentivam a preguiça mental são a equação para a falta de memória, ou falta de interesse em guardar essa informação.
Outra coisa me deixava envaidecida: nunca esquecia um nome e um rosto, mesmo que a pessoa me fosse apresentada apenas uma vez.
Por outro lado, sempre tive pavor daquelas pessoas que após o décimo encontro se portam como se estivessem sendo apresentadas pela primeira vez e estendem a mão afobadas:
-Muito prazer!
-Ora, vá para o diabo! Prazer nenhum! Se fosse, você saberia que já nos encontramos dezenas de vezes e lembraria meu nome!
Como diria Pablo (que não é Neruda, mas é genial), regra do cerimonial nessa situação é calar a boca, fingir que também não conhece o infeliz, responder abrindo um largo sorriso:
-Igualmente!
Tenho a convicção que as pessoas gravam nomes, rostos, informações, aniversários e até outros detalhes umas das outras na medida da conveniência e do interesse.
Ninguém, nem uma vovó-gagá, esquece o nome do médico da UTI. Aquele rosto e nome são importantes naquela hora. Vai lembrar até se tem filhos, se é casado, algo que lhe permita uma aproximação e uma sensação de familiaridade, um tempo maior de atenção e conversação.
Mesmo seduzida pela vida mentalmente preguiçosa, com HD superlotado e cada vez menos apegada às regras do cerimonial, ainda hoje me chateio quando alguém cruza comigo pela décima vez e se apresenta como na primeira.
Fico certa que na vida daquela pessoa nosso encontro significa menos que atender uma chamada enganada no telefone. Incomoda sentir que cada linha da conversa que será travada não passará de um amontoado de palavras jogadas no lixo.
Mas confesso que é cada vez mais frequente ser surpreendida com alguém, de quem não lembro o rosto ou o nome, me abordar com a intimidade do décimo encontro.
Ainda não entendi se essas pessoas são loucas, ou se sou eu que agora padeço da falta da memória e do interesse.

3 comentários:

Leinad disse...

Memória!

Pablo Paleologo disse...

Hahahahahaha! Adorei!! E adorei a menção!! Beijos!

Alexandre disse...

As mulheres têm uma memória privilegiada e extremamente seletiva. Conviver com elas é, por isto, sempre uma desvantagem. Talvez a natureza seja sábia, dando-nos uma nova oportunidade.