quinta-feira, 24 de setembro de 2009

me dá um beijo, meu filho.


Com que exata idade se deve construir uma barreira e sexualizar (ou sensualizar) a relação entre pais e filhos?
(Sexo, gênero, existe sempre, porém será que só eu consigo distinguir de sensualidade?)
Os filhos nascem nus. Nós os amamentamos e acalentamos. Por precaução os vigiamos enquanto tomamos banho, mesmo sem roupa e contando uma estória. Por muito tempo lhes limpamos as mais odiosas sujeiras, atolados em fezes, mijo ou catarro. Rimos de vê-los correr nus em pêlo na praia sempre que arrancam o calção incomodo.
Em que hora devemos esquecer isso tudo?
Duvido existir pai ou mãe, que correndo para não perder o ônibus da escola, ou outro qualquer, nunca tenha se enfiado numa roupa simultaneamente com o filho, sem tempo para constrangimentos ou falso pudor.
Se um dia eu chegar a envelhecer, ou mesmo adoecer, terei casto pudor para ocultar meu corpo sofrido e negar o cuidado de um filho? Terei que me esconder constrangida daquele que gerei e aceitar toque de estranhos com mais tranquilidade?
Num momento de alegria e comemoração terei que lhes negar um beijo, para cerimoniosa estender a mão?
É proibido a um pai demonstrar fisicamente amor ao filho do mesmo sexo ou do sexo oposto?
Realmente nunca soube o momento em que a sexualidade deve se tornar barreira para o carinho e o toque entre pais e filhos, com exceção única à vontade de ambos.
Dizem por aí que anjos não têm sexo, e para pais e mães normais (digo isso porque não há como negar existência da doença e perversão patológica) os filhos também não o têm.
O mundo anda tão mudado daquele que se apresentava às crianças nas fábulas de Esopo, que fico me perguntando: quem é demente, o pai que carinhosamente beija uma filha em público, os depravados que vêem nisso um ato de pedofilia sem nem questionar, ou as pseudo-autoridades que prendem o pai e deixam a filha à mercê da curiosidade doentia criada pela divulgação exaustiva do fato.
Não advogo às mães-godiva direito de cavalgar nuas pela casa, ou aos pais posar como Adonis na sala constrangendo seus filhos. Também não aprovo coagir filhos, lhes impondo total falta de privacidade e liberdade de escolha de conduta. Só meus filhos poderão dizer se aceitam ou rejeitam um beijo meu: só eles têm esse direito.
Acho que para cada relação, seja fraterna, filial ou de amizade, existe um código, uma necessidade, e ninguém além dos envolvidos (se mentalmente sãos, lógico!) poderá determinar o limite do carinho, da manifestação física e do toque.
Regras em geral servem para ocupar o espaço de liberdade e inteligência com burrice e preconceito.
A imagem de Klint, singela, diz tudo.

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