Por vezes me aflige lembrar que aos vinte e poucos anos um dia desejei que a vida passasse num instante e logo me visse madura, idosa, como uma tarefa terminada.
Hoje penso naquele tempo e imagino que diabos eu teria na cabeça.
Ver, aos vinte e poucos anos, a vida como uma estrada tortuosa para atravessar o mais rápido possível é algo muito cruel. Insano.
Hoje, chegando em meio século de existência, ainda não penso com melancolia no fim da estrada.
Consigo divisar planos no horizonte, mas sem agilidade para alcançá-los.
Se era angustiada e agora tenho serenidade por certo não foi brinde da idade.
Outras eram as causas daquelas aflições.
Quem diz que a maturidade traz coisas boas está se enganando e tentando enganar desavisados.
A idade traz conhecimento sim; mas nos transforma em críticos ferozes de tudo e todos.
Fisicamente consome a energia aos poucos.
Contudo a energia que falta mais é a da ingenuidade, da prontidão para o novo, da ausência de crítica e responsabilidade. O passar do tempo vai engessando a gente pouco a pouco.
Não quero mais aprender a patinar, nem pintar, não vejo objetivo em sair pela rua rindo de nada, não desejo um par de tenis mais que tudo, não saio vagando sem anunciar para a casa de um amigo, nunca inicio um dia totalmente sem planos.
Vejo que fechei a porta para o inesperado, para a surpresa, o acaso e deixei a criatividade com o improviso do lado de fora.
Pior, julgo mal os que assim não agem.
Magistralmente dito as lições de moderação, cautela e planos perfeitos ao mundo.
Aí de mim, velha rabugenta e pretenciosa.
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