segunda-feira, 18 de maio de 2009

coragem ou para Juli



Posso falar de coragem com a sabedoria e admiração de quem nunca a teve.
(Não confunda com ato heróico! Completamente diferente nascido do impulso momentâneo e impensado, heroísmo é praticado por quem pouco pondera, ao menos no momento anterior a se atirar debaixo do trem ou se colocar na frente de uma guerra.)
A coragem é pensada, planejada, sensata e libertadora. Um ato de exposição sem retorno.
A posição assumida fica impressa no tabuleiro, para ganhar ou perder, e a beleza está justamente nessa exposição antecipada, sem saber se haverá premio ou condenação.
Não me exponho. Cautelosamente oculto e sufoco.
Talvez por isso tenha tanta admiração pelas pessoas que se expõem, saltam na vida agarrando seus sonhos, desejos e opções, sem nenhum pudor ou preocupação.
A inveja da sensação libertadora que essas pessoas experimentam faz com que os seres travados, as julguem e condenem, especialmente saboreiem com prazer as eventuais derrotas, repetindo como consolo para a mediocridade que o fracasso foi previsto.
Mas onde há sucesso sem fracasso? Onde há reconhecimento sem exposição?
Sou covarde e medíocre, mas pertenço a categoria dos que admiram e aplaudem corajosos e transgressores.
Tenho a alegria de viver cercada deles, mas infelizmente essa característica não me contamina. Convivo feliz com o papel de espectadora dessas vidas que valem a pena.
Basta-me saber que no universo desses heróis de verdade, existirá uma linha da biografia que revelará minha existência no planeta.
Juliana, Daniel, Pedros, Alexandre, Margarida -minha avó, Francisco -meu pai, e João, obrigada por me ensinarem tanto. Pena não ter aproveiteitado melhor.


3 comentários:

Alexandre Belmonte disse...

As pessoas que se expõem e lutam incessantemente pelos seus sonhos, não necessariamente o fazem de forma despudorada ou impensada. Na verdade, o risco, pensado e avaliado, é assumido nos limites do pudor, sendo o êxito ou o insucesso o resultado a ser comemorado ou absorvido. De qualquer sorte, o erro é uma lição que faz parte de um futuro sucesso ou, infelizmente, de uma nova derrota e nova tentativa.
Você é uma lutadora e prova isso todos os dias. A diferença entre as pessoas que se expõem e as que não se expõem é apenas de estratégia e de limite da capacidade de insistir. E eu tenho inveja das pessoas que não se expõem e têm limites. São elas que numa interação com pessoas diferentes dão o tom a um entendimento norteado pelas diferenças.

Juliana disse...

Assim como Alexandre, eu tb tenho inveja (branca, by the way) das pessoas que têm limites claramente demarcados, que conseguem lidar com eles. É difícil.
Às vezes a falta do limite mais tolhe que liberta.
Eu te amo, madrinha-mais-linda-e-escritora!:)

Unknown disse...

Amiga, li absolutamente tudo e, mais uma vez, fiquei muito orgulhosa de mais esta faceta sua. Obrigada por dividir comigo "as coragens" da minha filha e por provar, quase que diariamente, que nossa AMIZADE, apesar de ter iniciado pela cumplicidade na degustação de um vidro de cerejas ao marrasquino, definitivamente, não foi miojo, já é madura, tem quase trinta anos, sobreviveu heróica e fielmente a todas as intemperies de nossas vidas. Amo você.