quinta-feira, 28 de maio de 2009

amizades eletronicas


Por certo já não sei viver sem telefone celular, internet e muita coisa que ontem eu mesma considerava "excesso e frescura".
Por virtude ou defeito, resisto sempre às novidades, pior demonstro com orgulho minha resistência.
Foi assim que mantive minha coleção de centenas de LPs por anos, jurando jamais sucumbir ao CD, aquela coisinha sem graça, sem arte, sem encarte.
Resisti muito ao telefone celular, alegava que aquilo escraviza, dá disponibilidade indeterminada aos outros, que eu me encontrava sempre em locais onde havia telefone fixo...
Com tristeza me despedi da minha câmera de fotografias com filme, acabei com o mistério que habitava a espera da fotografia impressa e revelada. Nas férias era como se viajasse de novo, nas fotos e nas formas inesperadas em que os momentos foram captados.
Fato: -hoje já estou encantada pelo MP3, apaixonada por todos os "gadgets" que o telefone celular pode oferecer e me transformei numa criatura onipresente pelo mundo real e pelo virtual. Vejo as imagens que fotografo no mesmo segundo, vou descartando logo as que não me agradam.
De tanto usar, mesmo que com anos luz de atraso em relação aos mais abertos, percebi que a minha intuição inicial, de que esses meios levariam a uma proximidade maior daqueles que nos são queridos, foi errada. Eles são nefastos e terminam por nos afastar e pasteurizar as relações.
Dou um exemplo: o SMS ou torpedo de celular.
É extremamente prático e discreto, especialmente útil para se passar uma mensagem curta, quando não há possiblilidade de conversação, ou a urgencia impera. Contudo, alguém se sente importante quando no Natal, ou na Páscoa recebe uma mensagem genérica, rebatida a toda lista de contatos da agenda do celular de outro? Ninguém está obrigado a lembrar de uma data, de um aniversário, do dia do amigo... mas por favor, se você se lembrar de mim, me telefone, me procure de alguma forma que eu sinta que sou especial, que me permita contato, uma resposta.
As mensagens que recebo dessa forma, repito, quando pessoais, me fazem sentir amordaçada!
É como se o interlocutor só estivesse interessado em marcar posição, sem nenhuma curiosidade da sua resposta, em saber se você está bem, se aquela data se passará realmente da forma feliz que o texto deseja.
Há ainda as pessoas que definitivamente não querem diálogo. Essas amam os meios eletrônicos, que lhes permite dizer toda sorte de abobrinha e deletar a resposta, ou simplesmente ignora-la.
Da mesma forma as mensagens de e mail. Concordo que esse meio, especialmente no âmbito profissional, não deve servir para as conversas prolixas, os longos textos refinados, para a troca de correspondência no padrão vigente das cartas tradicionais. Lembro delas com melancolia, havia um encantamento especial em aguardar a resposta e um estado de euforia, que é universal de quem abre o fisicamente um envelope que contém uma carta manuscrita por um amigo.
Admiro o e mail para a comunicação rápida, eficiente e, sobretudo documentada, que certas ocasiões exigem. Em alguns casos ele pode servir também ao afeto, pela discreção, por encurtar distâncias, pela onipresença que dá àquele que procuramos. Pode até carregar de imediato uma foto, uma imagem para esclarecer ou enternecer. Ainda assim, gostaria de encontrar com a primeira criatura que estabeleceu o protocolo de usar o email para se fazer presente na vida dos outros, mesmo sem assunto, ilimitadamente.
Esse ser é responsável pela minha aflição diária.
Eu simplesmente ODEIO mensagens repassadas mecanicamente, arquivos de fotografias de assuntos impessoais que não me interessam, textos piegas sobre uma amizade analisada, que se existisse entre os que repassam eles não o fariam.
Amigo é coisa para se encontrar, para se telefonar, para se escrever uma carta, para enternecer com uma fotografia, para saborear um cartão de Natal escolhido com carinho.
Torpedo e email só servem para marcar esse encontro.

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